terça-feira, 4 de janeiro de 2011

MÉDICO FAMÍLIA




Pelo terceiro dia sucessivo, acordei com uma tremenda dor de cabeça. Dizem as más-línguas, e também a minha mãe, que a culpa foi da passagem de ano “elas não matam mas moem” e eu estou moído, procuro refúgio nas sábias palavras de A. Flemming, Nobel da Medicina: "A penicilina cura os homens, mas é o Vinho que os torna felizes".
Busquei por respostas que me tranquilizassem no Google, escrevi dor de cabeça e entrei num site de diagnóstico, surgiu então a pergunta se essas dores são persistentes, de instalação súbita, se têm piorado e atrapalhado nas ocupações quotidianas, respondi afirmativamente e logo apareceu um alerta, com número de telefone para requisição imediata de uma ambulância e remoção para um serviço de emergência.
Não chamei a ambulância, pareceu-me exagero, mas fui logo a correr ao centro de saúde da Freixianda, para ser consultado pelo meu médico família.
Chegado ao local expliquei á senhora da recepção o meu problema e a necessidade absoluta de uma consulta médica, ao que a Sr.ª me respondeu que já não havia vagas, que hoje não podia fazer mais marcações para Sr. Doutor, agenda cheia portanto. Percebi, mas a minha dor de cabeça não passou…

Situações extremas requerem medidas extremas e eu como bom português desenrasquei-me. Fui a casa vesti o fato que tinha usado no casamento do meu tio, pus gel no cabelo e penteei risco ao lado, limpei uma velha pasta que o meu pai trouxe de Angola e lá voltei eu ao centro de saúde da Freixianda. Ao chegar, irreconhecível, apresentei-me á Sr.ª como delegado de propaganda médica e disse que precisava de apresentar uns produtos ao Sr. Doutor.
- Pode entrar, faça favor.
Houve uma utente que reclamou baixinho, para Sr. Doutor não ouvir, que estes delegados de propaganda médica eram isto e aquilo e aqueloutro… enfim pessoas insensíveis, que não compreendem a necessidade de um médico interromper as suas consultas para atender um tipo que vem apresentar um novo medicamento à base de ibuprofeno igual aos outros todos mas com um nome diferente.
Cheguei ao consultório, feliz pela minha astúcia, bati á porta e o Sr. Doutor mandou-me entrar com um sorriso nos lábios e esfregando as mãos. Quando percebeu que eu era só um utente desesperado e não um “vendedor de medicamentos” despachou-me, alegando que o seu tempo era importante de mais para o perder com brincadeiras.

Cada macaco no seu galho e pelos vistos o consultório do meu médico de família serve para receber delegados de propaganda médica e se tiver tempo atende também uns utentes.
Não admira, portanto, que as receitas dos utentes, tenham aquela cruzinha junto ao texto: Não autorizo o fornecimento ou a dispensa de medicamento genérico, e assinatura do Sr. Doutor. Paga estado, paga utente…

11 comentários:

  1. Não sei se o que acabei de ler é um desabafo ou uma uma critica. Sou médico há 30 anos e não vou discutir um assunto destes. Só que há um problema. Na Freixianda (no Centro se Saúde) trabalham dois médicos. A ser verdade esta história, e eu não duvido disso, há que ter "tomates" e "chamar os bois pelo nome" para que não fiquem dúvidas.Contado como está fica incompleto.

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  2. ainda existe uma outra hipótese de ser consultado.
    não precisa de marcar consulta nem de vestir a tal fatiota de executivo,basta que tenha 60 euros na carteira e se dirija ao consultório particular.
    como o atendimento aos srs. delegados de informação é feito no público o privado está sempre disponivel,dia e noite.

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  3. um dia destes ainda vamos ver os utentes do centro de saude todos de fato,gravata e gel no cabelo á espera da consulta,eh,eh,eh.(há já me esquecia da pasta)

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  4. a classe médica goza de um estatuto que permite fazer tudo o que lhe apetece enquanto o utente fica calado ou reclama muito baixinho para o sr. doutor não ouvir.
    por vezes o desespero e o sofrimento causado pela doença faz com que pareça normal que se paguem dois ou três mil euros por uma operação evitando assim as longas listas de espera.
    mas o pior de tudo é que estas operações são na maior parte dos casos feitas em hospitais púbicos e no horario normal de trabalho.
    assim,quem está em lista de espera tem sempre que contar com aqueles que pela força do dinheiro passam naturalmente á frente.
    resta pois,esperar pacientemente e em silêncio e não passar para a lista daqueles que quando são chamados infelizmente já faleceram.

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  5. nao vas por ai é muito dificil tocar os sr doutores
    .O estado quereos mesmo na reforma a trabalhar nem seja sapateiro e a ganhar bem.

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  6. @Fel de c�o
    Caro Fel de cão,
    A história está ficcionada de facto, todavia é verdade que por vezes não há vagas para os utentes, porém os delegados de propaganda continuam a entrar. Mas este problema não se cinge à Freixianda.
    Se os professores não interrompem as aulas para receber um vendedor de livros ou afiadoras, não percebo e não concordo que os médicos o façam.
    É também verdade que os médicos do Centro de saúde da Freixianda não autorizam os genéricos.
    Estas são verdades que nem o mais belo discurso pode escamotear.

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  7. insurrecto meditativo5 de janeiro de 2011 às 19:34

    Julgo que, por anteriores comentarios,e pelo proprio blog que mantem, o fel de cão é inteligente o suficiente para reconhecer que o post é ficção.

    Mas para sair em defesa da classe,e mostrar algum tipo de indignação tinha de "pegar" com alguma coisa, e resume tudo á dignidade ofendida de um dos medicos do centro de saude da freixianda.

    Na minha humilde opinião poderiam ser os dois ou a generalidade dos medicos portugueses( a trabalhar no publico)os personagens desta ficção.

    quem como eu já passou algum tempo nos corredores de hospitais publicos como o s.josé está farto de assistir cenas deste genero......

    mesmo tendo a maior respeito, pela classe medica e todo o seu trabalho, não podem estar acima de criticas.

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  8. o sr. fel de cão,na qualidade de médico,parece-me ser a pessoa mais habilitada para emitir uma opinião sobre este assunto.
    muito me surpreende que um comentador assiduo como osr. se remeta ao silêncio quando o assunto que está a ser discutido tem justamente a ver com a sua area profissional.
    sabe,isto não é só uma questão de ter tomates,é preciso tê-los no sitio.

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  9. está muito para dizer na area da saudé ja se fecharam centros saudé as populaçoes reclamam nada valeu agora pagam taxas moderadoras se tiver rendimentos superiores ordenado minimo e poucos mais os doentes precisarem ir hospital comecam ir de padiola porque naõ ha dinheiro para transportes ou entaõ vamos todos viver par lisboa porque lá que estao os hospitais .Mas os impostos sao iguais para todos e ainda ano passado um medico limpo hospital tomar 140 mil euros em 9meses

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  10. Do que li tenho que concluir, o que sempre soube, que "Casa onde não há pão todos ralham e ninguém tem razão". No que toca ao atendimento nos Centros de Saúde e Hospitais é diferente de caso para caso...às vezes até parece que estamos num país diferente. Ao que sei a maneira de trabalhar na Freixianda é diferente do que se faz em Caxarias (Quem estiver interessado é observar e pesquisar). Os médicos, como toda a gente sabe, são corporativistas (Defendem-se uns aos outros desde o juramento de Hipócrates). Não posso, nem devo, ir mais além. Ao amigo que diz que " não é só ter tomates, é preciso tê-los no sitio" acrescento que também devem ser pretos... se não vou mais além com a resposta não é por medo. Como ouvi, um dia, dizer a Carlos Candal "Na minha família os homens não morrem nem de parto nem de medo"é porque não é este o sitio para esse debate. Mas deixo a sugestão ao "Bisca de Três" arranja-se uma sala ai pela Freixianda e podemos debater este e outros temas para nós Freixiandenses, até para nos conhecer-mos melhor e conhecer os problemas da nossa terra natal. Por mim continuo a fazer o meu melhor seguindo e lema que me levou a ser médico. "Ser médico será sempre a mais bela das profissões enquanto a saúde e a vida humana forem os primeiros dos bens". É com um abraço, amigo, que encerro esta polémica desejando a todos muita saúde.Até sempre e bem hajam.

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  11. Concordo com o exposto,apesar de ser para rir não deixa de ser verdade, pois o que acontece no centro de saúde é praticamente isso: são atendidos os que não estão doentes. Já fui utente do centro de Freixianda, neste momento vou ao médico a Caxarias, e em relação a comparações não há: "os Sr.s dos remédios" são atendidos no fim das consultas ou quando algum doente falta ou chega atrasado. Consultas, pelo menos para a minha médica: Dra. Lucinda, basta telefonar e a Sra. Julia(a funcionária), diz a melhor hora e a médica consulta sempre no próprio dia. Estou lá Há 10 anos e nunca marquei uma consulta adiantado: não sei quando vou estar doente e as consultas de rotina(por causa do "costrol")é a médica que as marca, só me dá o papel com o dia e hora para não esquecer. O meu conselho para quem vai ao centro da freixianda era marcar uma consulta todas as semanas, se estiver doente vai, se não tiver não vai e o médico como tem consultas marcadas não pode sair de lá e quem sabe não começe a aceitar mais vagas
    AS

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